Triste lição da má educação

30/08/2012 14:29

Ao criar uma página no Facebook para expor o desleixo da gestão na Escola Básica Municipal Maria Tomazia Coelho, de Praia do Santinho, em Florianópolis-SC, a aluna Isadora Faber, de 13 anos, se tornou celebridade e desagradou à direção do colégio e os professores. Com imagens e textos, Isadora mostra por A mais B o que os burocratas da educação pública estão bestas de saber, mas são burros para ver: escolas depredadas, ensino deficiente e crianças cada vez mais sem aprender a lição didática.

Isadora filmou parte de uma aula de matemática para mostrar, segundo ela, que o professor não é apto a ensinar. “Ele simplesmente não consegue nos dar aula, não consegue explicar a matéria, não cobra respeito da turma, é como se não tivesse professor, a gente não aprende nada”.

 

Foi o suficiente para causar um Deus nos aguda. A diretora foi contra e exigiu que a aluna retirasse as imagens da internet. “Quando posto algo da aula, ela não gosta e diz que coisas que acontecem em local fechado não deveriam ser públicas”, disse Isadora ao site IG, como se a incompetência da escola tivesse o mesmo peso que o sexo, hoje mais praticado em público que entre quatro paredes. Ou como se o péssimo ensino público devesse continuar na obscuridade para permanecer ruim.

A Secretaria de Educação de Florianópolis vai se reunir para verificar se as denúncias têm procedência. O governador do Estado cogita investigar se a menina não está a serviço das forças de oposição política no Estado. Isadora relata que também teve que se acostumar com uma colega que deixou de falar com ela e com piadas maldosas de funcionárias do refeitório, que riem das fotos que ela tira e publica.

No País das cotas raciais para o ensino superior, em que vale mais a cor da pele do que o conhecimento, tanto o ensinado quanto o aprendido justamente nesta fase do aprendizado em que Isadora está, a reação do corpo escolar à iniciativa da aluna deveria ser repugnante. Mas é perfeitamente normal. Se a escola não tem a mínima capacidade de absorver críticas dos alunos ao próprio ensino, pois é para isso que serve a escola, Isadora está coberta de razão: na Maria Tomazia Coelho não há a mínima condição de se aprender nada. Nem ética e moralidade. Afinal, esse é o modelo de escola pública deixada pelo ex-ministro da Educação Fernando Haddad, aquele dos livros didáticos ideológicos com erros amazônicos de informação, do kit gay, do Enem sem pé nem cabeça e o mesmo que quer ser prefeito de São Paulo. Fazer o quê?

Nesse tipo de colégio, a pressão é para o aluno ficar calado sobre o que não aprende. Se reclamar, é golpista. Serve à imprensa direitista, está contra o povo e outras bobagens que emporcalham o quadro negro do ensino público como nunca antes neste País. Não é um caso isolado. Os dados do Indep revelam um Brasil mais perto do proselitismo educacional e mais longe da consciência crítica.

De cinco aulas que Isadora teve num dia, apenas duas foram com professores titulares. As outras três, com professoras substitutas. “Quando temos aulas com auxiliares elas dão um texto e uma pergunta e é sempre isso, acho que o tempo poderia ser melhor aproveitado”, revelou. Por que isso deve ser um segredo de Estado, como quer a escola? Afinal, a educação não é luz na ignorância? Ou o que se pretende é manter nossas crianças e adolescentes nas trevas da estupidez?

O que deveria ser abraçado com louvor e levado ao debate público dentro da própria escola, o senso crítico de uma estudante e o questionamento ao que lhe é ensinado, princípio básico de toda educação, foi reprovado como se Isadora tivesse errado no comportamento estudantil, hoje tão doutrinado quanto inútil nas escolas públicas. Nota vermelha merece os fisiologistas escolares. Segundo eles, Isadora deve fechar os olhos para os desmandos da escola pública, reivindicar sua cota na universidade e tentar aprender alguma coisa com professores que estão mais preocupados em parar de ensinar para reivindicar salários do que transmitir conhecimento pleno.

Não caiam nessa. Isadora faz escola. É ela que deveria estar à frente da classe. Diretores e professores deveriam voltar para o banco da escola.

FONTE: D2 AM

https://blogs.d24am.com/artigos/2012/08/29/triste-licao-da-ma-educacao/