Obesidade já atinge quase 20% das crianças

18/02/2013 14:42

Diabetes e pressão alta não são mais exclusividades de adultos. Crianças rio-pretenses, com menos de 12 anos, já estão doentes e fazem acompanhamento contra a obesidade para combater os males que o excesso de peso traz. Em apenas um ano, aumentou em 62% o número de crianças que participam dos Gras (Grupos de Reeducação Alimentar).

Em 2011, o acompanhamento nutricional e psicológico foi feito por 2.303 crianças com até 11 anos e 9 meses. No ano passado, participaram do programa 3.740 crianças.

Outro dado alarmante, que pede a atenção dos pais e da sociedade é que 11,03% das crianças de Rio Preto, que passaram por análise de diagnóstico nutricional, estão acima do peso e outras 6,32% são obesas. Dos 6.617 estudantes analisados, 1.148 enfrentam problema com a balança. É praticamente uma em cada cinco. O comparativo foi feito pela Secretaria Municipal de Saúde a pedido do BOM DIA. Contudo, pesquisas mostram que um terço das crianças brasileiras está acima do peso ou obesa.

Razões/ Alimentação errada tanto no valor nutricional dos alimentos como na quantidade, excesso de produtos industrializados - como bolachas recheadas e refrigerantes - sedentarismo e o uso abusivo de óleo no preparo de refeições são apontados pela nutricionista Andréa Gonçalves Paes como os principais “abusos” cometidos pelas famílias e que “castigam” a vida dos pequenos.“As crianças estão comendo muito errado e em quantidades incompatíveis com a idade, a altura e o gasto calórico delas. Não tem como não engordar”, diz Andréa, que é gerente de Vigilância Nutricional da Secretaria de Saúde.

www.redebomdia.com.br/noticia/detalhe/44458/Obesidade+ja+atinge+quase+20%25+das+criancas

O Instituto Alana, de promoção do bem-estar de crianças de todo o país, tentou sensibilizar o governo do estado para impedir a veiculação de comerciais que incentivem a alimentação errada. Foram coletadas milhares de assinaturas. Mas o projeto de lei foi vetado há poucos dias por Geraldo Alkmim. No www.muitoalemdopeso, documentário feito pelo Alana, é possível assistir relatos assustadores de crianças obesas.

Bullying/ No final da tarde de quinta-feira, das seis crianças que brincavam em uma quadra, no bairro Dom Lafayette, duas estão acima do peso. Havia ainda um adulto obeso e um adolescente, de 13 anos, também obeso.

Vinícius, de 5 anos, pesa 33 quilos. Eduardo, de 10, e menos de um metro e meio de altura, 65 quilos. As duas crianças estudam a tarde e passam a manhã inteira dormindo.“Ele passa o dia inteiro na escola, então deixo ele dormir de manhã”, diz Ilma da Mota, mãe do Eduardo.
“Vou ligar e marcar consulta com endocrinologista infantil”, diz Roberta Arrais, mãe de Vinícius. As duas afirmam que os filhos comem “como gente grande”.

Enquanto Roberta falava com o BOM DIA, o pequeno Vinícius tentou atravessar a rua. Uma moto vinha e um adulto gritou: “Oh, leitão cuidado com a moto”. Esse é um exemplo de mais um problema que as crianças acima do peso sofrem: o bullying. Em alguns casos as brincadeiras chegam a ser cruéis e podem provocar problemas psicológicos para toda a vida.

Família tem de estar envolvida na reeducação

Dieta é para quem precisa emagrecer os três quilinhos a mais que incomodam. Para crianças e adultos acima do peso o resgate da saúde só se dá pela reeducação alimentar.

O processo é lento e para sempre. E quando se trata de crianças, a família precisa estar junto. Caso contrário, é quase impossível, vencer essa “guerra”.

“Só aceitamos crianças cujas famílias também participam de algumas reuniões”, diz a nutricionista Andréa Gonçalves Paes, responsável pelos Gras (Grupos de Reeducação Alimentar) de Rio Preto.

No ano passado, 3.740 crianças, com menos de 12 anos, participaram dos grupos, que têm reuniões quinzenais e ensinam, de forma lúdica, alimentação correta e estimulam a prática de atividades físicas.
“Firmamos parceria com o Sesi e este ano, os participantes terão atividades práticas dentro do programa Alimente-se bem: missão possível”, diz a nutricionista.

As crianças serão levadas até o Sesi, vão aprender a cozinhar pratos saudáveis e depois experimentar o que fizeram.
“É mais um incremento para convencer crianças e os pais a aderirem ao programa.”

Levantamento feito pelos Gras mostra que 40% das crianças obesas desistem do tratamento pela metade.“Consideramos um índice positivo. Mas sabemos que se as famílias se envolvessem no processo de reeducação das crianças, teríamos mais êxito”, afirma.

Só para exemplificar a importância da participação da família, quase a totalidade dos pais entrevistados no Gras relata uso abusivo de óleo no preparo da comida. Uma família formada por quatro pessoas, não deveria usar mais de duas latas de óleo por mês. “Em média, são nove latas de óleo de soja consumidas por mês por essas famílias”, diz Andréa.“O programa ajudou todos em casa. Estamos comendo melhor e nos sentindo mais saudáveis”, diz a autônoma Angela Aparecida Honorato Silva, 41, mãe de Helideangelis, 6, que desde os quatro anos participa do Gras.

O garoto ainda não emagreceu, mas conseguiu brecar o processo de ganho de peso. Nos próximos dias vai começar natação, o que deve ajudar no emagrecimento.

“Não quero o meu filho gordo, sendo alvo de outras crianças, e nem que ele fique doente”.

Crianças de Rio Preto já estão com doenças

As complicações de saúde mais comuns causadas pela obesidade entre crianças que foram atendidas nos Gras estão a hipertensão, dislipidemia (gordura no sangue), diabetes, alteração do metabolismo, problemas ortopédicos e consequências psicossociais (discriminação, desajuste social e baixa estima)

11 locais oferecem acompanhamento

Em Rio Preto, os Grupos de Reeducação Alimentar se reúnem nas unidades de saúde dos bairros: Solo Sagrado, Vetorazzo, Eldorado, Jaguaré, Rio Preto 1, Santo Antonio, Renascer, Cidadania, Anchieta, Central e Vila Toninho. As inscrições para os grupos deste ano começam no dia 15 de março, nas próprias unidades de saúde. As reuniões são quinzenais com exceção do Santo Antonio, onde são semanais. O acompanhamento é feito por nutricionista, psicóloga e pediatra. Quando necessário, a criança é encaminhada para outros especialistas.