Mortes após ressonância ocorreram por falha humana, afirma polícia

26/04/2013 12:54

A Polícia Civil concluiu que uma falha humana causou a morte de três pacientes que passaram por exame de ressonância magnética no Hospital Vera Cruz, no dia 28 de janeiro, em Campinas (SP). De acordo com os delegados do caso, os pacientes receberam na veia, por engano, a substância perfluorocarbono, que não pode entrar na corrente sanguínea. O equívoco foi cometido por uma auxiliar de enfermagem, de 20 anos, que, para a polícia, teria sido induzida ao erro já que a clínica reaproveitava embalagens de soro para acondicionar o composto usado indevidamente.

Os dois homens, de 36 e 39 anos, e uma mulher, de 25, morreram de parada cardiorrespiratória após passarem pelo exame na clínica Ressonância Magnética Campinas, que fica dentro do hospital particular, um dos mais tradicionais da cidade. A substância aplicada nos pacientes foi apreendida pela polícia dentro da clínica, dois meses após a morte, porque a RMC não entregou o material à Vigilância em Saúde no dia do incidente.

O delegado José Carlos Fernandes explicou, nesta quinta-feira (25), que o perfluorocarbono, utilizado para exames na região pélvica, sem contato direto com o paciente, não é solúvel no sangue - por isso não poderia ser injetado em pacientes. Segundo o policial, o composto era acondicionado em embalagens reaproveitadas e ficava no mesmo armário do soro fisiológico, apenas em gaveta diferente. A auxiliar de enfermagem não foi orientada sobre a diferenciação dos produtos.

A jovem, segundo Fernandes, trabalhava no hospital havia dez dias e, por isso, o delegado interpretou que ela foi induzida ao erro por conta da falta de informação no momento em que preparava as soluções para os pacientes. Ele agora vai investigar a responsabilidade de outros envolvidos e da própria direção do Vera Cruz e da RMC. Para isso, a partir de segunda-feira, serão colhidos pelo menos seis depoimentos. Ele não descarta a chance de acareação entre as testemunhas.

O que diz o hospital
A assessoria de imprensa da RMC, empresa que realizou os exames, disse que vai abrir um procedimento interno para apurar as falhas no procedimento. A clínica nega que o local dos exames tenha sido alterado após as mortes, mas admitiu que compra o perfluorocarbono em galões grandes e que o material é colocado em bolsas iguais às de soro.

A assessoria de imprensa do Vera Cruz disse que o hospital não foi notificado oficialmente sobre as conclusões da polícia, mas adiantou que também abrirá uma sindicância para apurar a falha.

Testemunhas protegidas
De acordo com a polícia, a informação sobre a presença do composto no hospital e também sobre o procedimento adotado no exame foi passada em depoimento por testemunhas protegidas pela Corregedoria da Polícia Civil.

Na época das mortes, havia a informação de que duas profissionais diferentes haviam preparado os três pacientes para o exame. O delegado explicou nesta quinta que a técnica de enfermagem recém-contratada estava em treinamento e preparou a solução, que ela julgava ser soro, para que as enfermeiras aplicassem nos pacientes.

O caso
Três pessoas morreram no dia 28 de janeiro deste ano após exames de ressonância magnética no hospital particular Vera Cruz. Entre as vítimas estão a administradora de empresa Mayra Cristina Augusto Monteiro, de 25 anos, que deixou uma filha de 4 anos. Também morreu o paciente de Santa Rita de Cássia, o zelador Manuel Pereira de Souza, de 39 anos, casado e pai de uma filha de 6 anos. O terceiro paciente é Pedro José Ribeiro Porto Filho, de 36 anos.

https://g1.globo.com/sp/campinas-regiao/noticia/2013/04/mortes-apos-ressonancia-ocorreram-por-falha-humana-afirma-policia.html